Há bastante tempo que o Carlos havia mandado um cowboy precisando ser restaurado. Confesso que quando ele chegou eu me assustei, pois estava em péssimas condições. Então deixei ele lá, descansando, para que quando estalasse a ideia do procedimento certo eu o consertasse.
O tempo foi passando e foi crescendo o medo de eu não poder mais restaurá-lo como devia ser feito. Não bastava encher de Durepox e ir lixando. Tinha que ser algo a altura do valor da figura. Por isso foi demorando cada vez mais. Então, na semana passada, comecei a ver as restaurações do Jamar Muniz. E aí a inspiração, junto com a vontade e a própria cobrança, me fizeram ir até a oficina e começar.
Aliás, começar é fácil, dar continuidade é outra coisa. A ideia era, desde o começo, usar um rifle de plástico. Então fiquei procurando por um cano com culatra por um tempo. Como não achei, resolvi que teria que ser feito. Outro problema seria a fixação dos pés e base. O pés de Durepox (não vamos mais usar isso, ok, explico lá embaixo) e base do mesmo material deram lugar a uma base de plástico. Usei um pedaço de tambor que tenho para transportar gasolina no barco.
A fixação da base na figura devem ser feita com arame de aço, aço inóx. Isso para não haver posterior oxidação e expansão do ferrugem, como acontece em moldados de concreto armado. Isso eu observo com frequência em figuras que eu tenho e que foram "consertadas" sem muito esmero ou falta de técnica. Esse arame deve ser lixado ou esmerilhado para fundir-se a peça onde vai ser inserido. Não pode estar liso.
Um ponto importante é que eu não furo para introduzir o arame. Sim, faço isso fundindo ele no interior da peça. Eu tenho atualmente um pirógrafo para fazer isso, mas vou fazer também várias pontas para ferros de solda e colocar um controlador de tensão neles. Um dimer, desses que se coloca para controlar a luminosidade das lâmpadas da casa. Essas pontas devem ser de aço inox, que por si só já aquecem menos que o latão ou cobre, além de não sofrerem desgaste.
Feita a ressalva do equipamento, vamos a confecção e moldagem das peças. O rifle foi cortado de um pedaço de plástico previamente testado quanto a capacidade de retração e termofusão. As figuras não são compatíveis com qualquer plástico, então, ou se testa ou se conta com a sorte. A figura foi desgastada onde foi preciso e o rifle introduzido. A mão que apóia o cano foi reconstruída a partir do pino de inox introduzido no punho. A "mão" foi sendo colocada em pedacinhos com a ponta do pirógrafo. Corta aqui e cola ali. Foi assim que coloquei a massa de mira na ponta do cano. Não ficou melhor por causa da temperatura excessiva e ponta do pirógrafo.
Quando a colocação dos pinos, como já falei, tem que ser feita com termofusão. Abri um rasgo com a ponta do pirógrafo e introduzi o arame. A posição correta do pino foi resolvida colocando a ponta do pirógrafo em cima e aquecendo o arame dentro do plástico. Isso faz com que pino fique bem preso, ao contrário da introdução por perfuração. Pode-se aquecer o pino numa chama, mas é bem chato e difícil de fazer. Recomendo um ferro de solda de 30 watts com o dimer para isso.
Bom, por último, a questão do durepox. Não uso mais porque fiquei sabendo que tem mais mistura de pó do que resina. Assim indico o poxipol, que segundo o fabricante tem só 17% de resíduos para mistura e 83% de resina epoxi. Por enquanto vou continuar a usar produtos desta marca., como a poxilina.
Figura em péssimo estado.
Inserção dos pinos para a base e pés.
Montagem da base por termo fusão.
Figura reconstruída.
O rifle é mais comprido que o original. Optei por se tratar de uma figura restaurada, além de um gosto pessoal por armas mais longas. Além disso, dois cowboys são agora diferentes entre si.
Aqui pintado e comparado a figura Reamsa original. Minha visão há muito não é a mesma e dependo de lupa (com qual não consigo me adaptar) para alguns reparos. Assim, faltou o dedo indicador no gatilho.
O trabalho de restauração em figuras de faroeste é algo fantástico!!!
ResponderExcluirLia muito sobre as restaurações do Carlos Barros, e ficava fascinado com este tipo de trabalho.
Adoraria ver as restaurações do colecionador Jamar Muniz!
O Jamar tem postado bastantes coisas no Facebook. Ele está se esmerando muito nas restaurações. É uma das formas que temos de salvar as figuras. Talvez por isso eu goste tanto das réplicas bem feitas. A verdade que original é original, mas não se pode privar as pessoas de terem as figuras que gostariam. E depois, há umas que são extremamente raras, e bonitas. Merecem serem perpetuadas.
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ResponderExcluirEu que sou tão detalhista, nem percebi a falta do dedo no gatilho! Obrigado por dar nova vida a uma figura que estava perdida!
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