Estava eu pensando em qual seria a cena daquela exposição. Um ataque de índios ao forte era óbvio, mas, e o motivo? Porque atacariam e principalmente como as pessoas saberiam que o ataque tinha uma causa.
O forte estava pronto, o tempo acabava. Havia cinco noites que eu ia dormir após a uma da manhã. Então, no último dia, estalou a ideia de ter um prisioneiro transportado sendo resgatado. Mas onde eu ia prendê-lo? Uma cadeia não cabia mais no conjunto. Pensei numa cela embaixo da passarela, mas ficaria ainda escondido. Então veio a ideia da carroça de prisioneiros.
O forte se foi, uma pena, pois foi o mais bonito e mais detalhado que eu já fiz. Está hoje na coleção do P. Maciel e faz a alegria da criançada que o visita. Disse-me ele que os pais vão lá com seu filhos para tirar fotos. Esta é minha maior alegria. Ver que pude (que posso) fazer alguém voltar a infância e fazer outros conhecerem o que praticamente se perdeu.
"Eu faço aqueles Forte Apache, lembra? Soldadinhos, índios, cowboys..." e as pessoas muitas vezes dizem que não sabem o que é. Não é coleção, não é juntar brinquedos. É nostalgia, é matar saudade dos tempos de infância, dos meus amigos Fábio, do irmão Alex, filhos do "Tanga", nosso vizinho de muito tempo. Saudades da Loja Miscelânia, hoje uma panificadora, onde "Seu Paulo", já falecido, trabalhava com seu irmão vendendo brinquedos. Saudade das brincadeiras com saudoso Hugo, vindo do calor do Rio de Janeiro para o inverno com vento sul de Floripa. Coitado, era ventar, mesmo no Natal, que ele buscava um casaco. Onde andará este filho de militar que me deixou de presente um bisão da Trol?
Tenho um amigo aqui na rua, o Rico. Tem trinta e poucos anos. Vez por outra fala que quando era pequeno o pai nunca queria comprar um Forte Apache pra ele. Está se mudando dia destes para um casa nova e pediu que eu fizesse então um forte pra ele. Prometi fazer com a madeira do telhado. Então sim, ele vai realizar um sonho. E este sim será o forte mais bonito que eu terei feito.
Vista da parede da antiga Loja Miscelânia, depois que o antigo prédio da Caixa Econômica Federal foi implodido.
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